30.8.10

fantasma

queria na verdade ir lá. descer até a rua de dabaixo (mas também porque justo morar na rua de baixo?) subir até o terceiro andar - era terceiro mesmo? - bater na porta e olhar em seus olhos até eles se desencantarem para mim, se desencantarem de mim, para não serem nada mais do que puros olhos olhos-só, não serem mais a infinidade de coisas que escrevi, poço, piscina, o naufrágio, o caralho-a-quatro, e aquele rosto ser só mais um rosto, pronto, um rosto, não ser todo esse deslumbramento, e tudo não ser mais nada

os dias passaram, as semanas e os meses também, não exatamente nessa ordem, não exatamente na ordem lógica das coisas, onde um mês era um piscar, e a hora se arrastava por eras, o desenho já não tem mais linhas, perdeu nitidez, virou borro, as cores perderam a cor, será, será, um dia será só rosto

se as presenças fossem cotidianas, tudo se emendava, como naquela outra história, onde o encontro diário foi razão de paixão e seguida razão de desencanto, veneno & remédio mesma porção, mudando a dose, uma cura homeopática, mas de ti é tudo menos o dia a dia, você é o alumbramento e a assombração, aperece e some no instante, entra e sai por uma porta que eu não tenho a chave

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